sexta-feira, 9 de abril de 2010

Métiers d’Art a Longevidade e o Laqueado



Seja forte como o pinheiro, duro como o bambu e puro como a ameixeira

            Com mais de 250 anos de produção artesanal ininterrupta, a Vacheron Constantin é tida como a mais antiga manufatura relojoeira do mundo. Fico feliz por uma empresa tão expressiva estar atenta aos valores artísticos e praticas artesanais ancestrais.
            Talvez empresas com tanta experiência tenham uma relação diferenciada com o tempo e seu planejamento. A coleção  Métiers d’Art  atesta o que quero dizer, trata-se de uma série de relógios com produção limitada, que prestam homenagens a diferentes produções artísticas e históricas, em edições que são completamente renovadas a cada três anos. Elas sempre buscam aliar a tradição da relojoaria mecânica da Vacheron com produções de grande valor estético e poético.
            Em 2010, na Baselworld a Vacheron apresenta uma nova coleção da linha Métiers d’Art, chamada de “O simbolismo do Laqueado”. O laquerado é uma técnica de decoração desenvolvida a partir da seiva de uma arvore encontrada nos países orientais, ela se chama Urushi, a tal seiva chamamos de “Laca autentica” muito embora atualmente seja usado vernizes sintéticos como substituto de laca.

A técnica empregada pela Vacheron com a laca chama-se Maki-e, ou “desenho salpicado”, é a técnica de laqueado mais sofisticada que existe. Trata-se de um trabalho decorativo que consiste em dar forma a um desenho espalhando delicadamente pó de ouro ou de prata sobre laca fresca. Note que são mestres japoneses que decoram esses relógios jóias, isso é curioso pois é inédito uma parte da produção desses relógios (mostradores e fundos) se dar no Japão, e não na Suíça, mas sem dúvida uma colaboração de resultados esplêndidos.
            Mas que figuras são retratadas nos relógios? Temas ligados a longevidade através da história e cultura orientais. Para tanto, em 2010 os relógios retratam os “amigos de inverno”, capazes de mostrar vida e beleza durante o frio, eles representam também a amizade cuja lealdade persiste inclusive nos momentos difíceis, representado pelo inverso. Os temas são plantas e aves, cada um tendo um delicado significados:


O pinheiro, venerados pela sua idade e força, os pinheiros se conservam verdes no inverso. Ele é acompanhado pelo Grou, ave cuja brancura lembra o passar dos anos.

O bambu, que é flexível mediante as mudanças, mas sempre persiste, pois, passada a tormenta, volta ao seu estado original. Além disso o bambu sempre assume seu compromisso com a vida pois sempre produz brotos. A essa planta foi associado o pardal, onipresente e sempre em atividade.

Por fim a ameixeira, a primeira arvore que floresce quando o inverso persiste, e também a arvore frutífera de maior longevidade. A ameixeira está relacionada o rouxinol, que, com seu canto, celebra a chegada da primavera.

Poético e sublime, cada uma das três variedades são produzidas em 20 unidades. A Vacheron usa seu belo calibre esqueleto 1003 extra-plano, fabricado em ouro branco e com o Selo de Genebra. A caixa é produzida em ouro rosa ou branco estanque a água 3atm. A pulseira usa couro de jacaré, com fecho em ouro no formato da Cruz de Malta, símbolo da marca.
            Para finalizar admito um ponto, esses relógios me inspiram de tal forma, assumindo tal delicadeza, que me pergunto simplesmente se teria coragem de usá-los, mas estou certo que eles não foram feitos para nos acompanhar no dia a dia, e sim para momentos muito especiais. 

Alan Panizzi

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O Incrível Relógio de Santos Dumont


    Esse artigo é especial para mim, pelo significado da figura de Alberto Santos Dumont, eterno pai da aviação; por consequência seu relógio Cartier Santos tem significado especial para o povo Brasileiro. Mas acredito que as particularidades que tornam essa peça tão especial vão além do seu ilustre proprietário.
     Tudo inicia a partir da amizade que Santos Dumont cultivava, desde o final do século XIX, com Louis Carter, que então controlava a ascendente joalheria de luxo e leva seu sobrenome. Numa conversa com Louis, Santos lamenta como é difícil comandar seus dirigíveis e olhar simultaneamente as horas. Naquele momento histórico quase todos os relógios comercializados eram de bolso. O desafio estava posto para a Cartier.
    No início do século XX os movimentos dos relógios Cartier eram produzidos por Edmond Jaeger (da famosa Jaeger LeCoultre), e em 1904 a Cartier, com a contribuição do mestre relojoeiro, entrega a Santos o protótipo do prático relógio de pulso. Na verdade a Joalheria Cartier, e seu mestre Jaeger, precisavam de uma figura muito especial para divulgar um novo modo de se ver as horas e por conseguinte se relacionar com o relógio, alguém notório, sedutor, ligado a tecnologia de sua época. Não preciso falar quem foi o escolhido.
     Tem sido comum ouvir que foi Santos Dumont quem inventou o relógio de pulso, isso não é de todo verdade. Antes disso a Patek Philippe comercializava relógios de pulso, mas apenas para mulheres. Breguet também produzira seu famoso relógio de pulso para a Rainha de Nápoles, e a Girard-Perregaux vendia relógios de pulso para a Marinha Alemã. Antes dos três, por volta de 1500, a rainha Elisabeth I já usava relógios da mesma maneira. Mas em todos esses casos o uso desses relógios, ligados ao pulso, eram exceção, foi a figura de Santos Dumont, (auxiliada pelo belo desenho atemporal do Cartier Santos) que mudaram profundamente o paradigma de se ver as horas nos próximos séculos.
    O relógio que aparece na foto pertence a coleção privada da Cartier, e recentemente foi exposto Palace Museum de Pequim. Infelizmente não consegui a informação se seria o próprio relógio usado por Dumont, ou outro idêntico comercializado na mesma época. Se a segunda hipótese proceder, fica a dúvida sobre onde estaria o modelo utilizado por Santos Dumont atualmente. A foto publicitária foi divulgada na revista "Caros Amigos" em Julho de 2006 e digitalizada pela Academia Snooker Clube.
     O Cartier Santos foi produzido em ouro amarelo, com cabochon de safira e pulseira de couro marrom, suas dimensões eram com dimensões de 34,9 x 24,7 milímetros. O movimento era o calibre redondo LeCoultre 126, com decoração Côtes de Genève, 18 rubis, escapamento de âncora suíço e espiral Breguet.
    Desde então mais de cem anos se passaram e a Cartier continua produzindo e comercializando tal relógio, com praticamente o mesmo desenho. Além disso, menciona em seu site oficial uma breve descrição de sua história de glória, foi assim que Santos Dumont se ligou definitivamente a história da Cartier e mudou o rumo da relojoaria mundial.




Alan Panizzi

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Excalibur Tourbillon Minute Repeater, o mais belo Roger Dubuis

Sinto algo controverso pela Roger Dubuis, alguns de seus modelos me parecem demasiadamente chamativos, esses relógios são conhecidos no Brasil por serem bastante usados pelo apresentador de TV Fausto Silva, sabidamente um apreciador de relógios finos. Mas não acho que todas as marcas devam investir numa única concepção estética, como se apenas os “discretos” e apegados ao passado tenham um lugar sob o sol. Discreto demais é sem graça. Acredito que novos paradigmas estéticos, não necessariamente europeus, precisam ser criados.
De todo modo estou encantado com o Excalibur Tourbillon Minute Repeater, talvez o mais belo relógio apresentado na Baselworld 2010. Ainda não pude ver ele no pulso de alguém, afinal um relógio é um relógio e seu contexto, mas seu desenho com o mostrador mostrando parte do movimento e o turbilhão é hipnótico, além de conter uma das mais belas complicações da relojoaria mecânica, o repetidor de minutos.
Todos os relógios Roger Dubuis possuem o prestigioso Selo de Genebra, que atesta a extrema qualidade do acabamento do movimento, e a caixa é confeccionada em ouro rosa com fivela em couro genuíno de jacaré.
Alan Panizzi

F.P.Journe Vagabondage II






         Confesso que gosto muito dos relógios criados pela manufatura independente E. P. Journe, especialmente do seu ultimo Perpetual Calendar. Mas o Vagabondage II realmente é um espanto do ponto de vista estético.  Seu mostrador “digital” se mostra impactante, como todos os demais cronógrafos Journe é de inigualável facilidade de leitura. Some a tudo isso um movimento exclusivo, totalmente desenvolvido e criado pela manufatura. Quero dizer que esse relógio não é apenas um "rostinho bonito" alimentado por campanhas milionárias de publicidade, é relojoaria em estado de arte. Se você não está familiarizado com as obras de Journe, saiba que esse relojoeiro tem sido muitíssimo valorizado pelos conhecedores, tendo uma de suas criações obtido o premio de relógio do ano na Suíça em 2009 (eleição promovida pelo site TimeZone).
Essa manufatura afirma viver a “era do ouro”, visto produzir todos seus movimentos em ouro 18k, na verdade acredito que a base do movimento seja de ouro, já que, até mesmo por questões de durabilidade e funcionalidade peças como o balanço precisam sem produzidas com materiais muito específicos.   De todo modo os relógios de Journe tem alcançados valores próximos dos obtidos com Patek nas casas de leilões internacionais, essa casa jovem e pequena, se comparada aos demais grupos de luxo, deve mesmo estar vivendo épocas de ouro ....
Infelizmente trata-se de uma edição limitada a 69 peças produzidas em platina e 68 em ouro vermelho 18 K (esse o mais belo na minha opinião), digo “infelizmente” porque acredito que uma peça tão bela, sem dúvida uma das mais impactantes das criações de Journe, mereceria fazer parte de sua linha oficial de relógios, e, com o passar das décadas, se tornar um clássico ou mesmo uma lenda, potencial criativo para isso o Vagabondage II tem.   

Alan Panizzi

terça-feira, 6 de abril de 2010

Patek na Baselworld


Estava pensando num relógio especial pra mim, sobre o qual escrevo meu primeiro post nesse blog dedicado a minha paixão pela relojoaria. Acho que tinha que ser um Patek Philippe, marca que tanto amo pela sua beleza suave e capaz de resistir aos anos como um companheiro confiável e discreto, pena inacessível ....
Mês passado ocorreu na Suíça o maior evento da alta relojoaria, a Baselworld 2010, para mim o cronógrafo 5950 “a” foi o mais belo relógio apresentado pela Patek. Sua caixa é feita em aço (raro para um Patek, que privilegia ligas preciosas), Sabemos que a Patek não usa aço por economia, mas por comprometimento com a filosofia e a proposta de cada relógio, seu Nautilus em aço, por exemplo, é um dos relógios mais caros – e desejados – do mundo, superando em muito o valor de outros relógios de ouro ou mesmo platina. Particularmente gosto do aço pela sua cor neutra e pelo fato de ser um material adequando para caixa de relógios, dada a durabilidade e resistência a riscos. Seu calibre CHR 27-525 OS é definido como o mais fino cronógrafo ratrapante do mundo, e é inteiramente planejado e produzido na manufatura Genebrina. Mas não quero entrar em muitos detalhes técnicos a seu respeito, simplesmente sinto profundo desejo de utilizá-lo, de olhar para suas curvas suaves e absolutamente imunes ao tédio. Pra mim sua caixa é poética, simultaneamente clássica e esportiva, como convém a um cronógrafo.
Alan Panizzi